Editora: L&PM Pocket
Nota: 8.5/10
Citação:
Um inimigo morto é bom, mas vivo é melhor ainda.
Considerações sobre a obra
O livro O Eterno Marido é uma obra clássica e que acaba demonstrando bastante as complexidades das relações humanas. E, por mais que ele tenha começado de uma forma bem “chata” no início do ato um, se desenvolve de uma forma empolgante e extremamente relevante nas demais partes.
A escrita de Dostoiévski demonstra claramente uma compreensão e uma representação das relações interpessoais. Não as explicando, mas as demonstrando em sua completude e com uma quantidade gigantesca de profundidade.
O livro tem grandes enigmas desde seu início até o final, e a relação entre Pável e Vieltchâninov varia entre o ódio, o desprezo e uma fachada pública de que, na realidade, eles são extremamente próximos. Tal relação é tão bem construída que é possível entreter o debate se, mesmo com todos os acontecimentos e o sangue ruim existente na situação, eles realmente eram próximos ou se era apenas uma fachada.
O realismo presente é extremamente perceptível, e a complexidade apresentada é extrema. É uma leitura que eu recomendo e acredito que — depende de pessoa para pessoa — pode afetar, de certa forma, como você vê a vida ao seu redor e as relações ao seu redor.
De qualquer forma, a descrição dos acontecimentos, das diferentes facetas, dos pesos das ações e da transição tida pela percepção da relação dos personagens é apresentada com uma descrição grandiosa e completamente bem feita.
Contextualização - Resumo
O livro pode ser dividido em 3 atos principais, por isso os dividi de tal maneira.
Ato 1
O livro começa tratando de Vieltchâninov e seu encontro com Pável. Pável é o ex-marido de Nádia – mulher com quem Vieltchâninov teve um caso.
Vieltchâninov estava esperando o resultado de um processo que não saía nunca, acreditando fielmente que estava sendo ignorado pelo seu advogado.
Nesse primeiro encontro, Vieltchâninov tem suas dúvidas sobre Pável, mas é afirmado que Nádia morreu e que ela teve uma filha com Pável. Tal filha estava com ele. A garota era completamente maltratada e “presa emocionalmente” a Pável. Seu nome era Liza.
Vieltchâninov começa a ter suspeitas de que essa menina é, na realidade, filha dele, e não de Pável. Vendo como a situação estava ruim, Vieltchâninov oferece para mandá-la para um campo de uma de suas amigas. Lá, havia várias crianças, e ela poderia se encaixar melhor. Pável oferece um pouco de resistência, mas aceita.
Pável sempre se encontrava bebendo horrores e até mesmo fazia ameaças como: “Irei me enforcar com essa corda aqui e a culpa é sua”, dirigidas à sua filha. Então, a decisão de Vieltchâninov parece fazer sentido. Pável promete que irá visitá-la, mas, obviamente, não vai.
Enquanto isso, um amigo de Pável morreu, e Pável o acompanhou em seu funeral. Nisso, é dito como esse amigo, na realidade, cometeu adultério com sua esposa também – alguém que, pelo visto, traía bastante. Pável até mesmo diz: “Um inimigo morto é bom, mas vivo é melhor ainda”, quando comenta com Vieltchâninov sobre não estar aliviado com a morte de tal amigo.
Também é comentado que, na morte de sua esposa, Pável achou uma caixa que possuía cartas que sua esposa trocava – tendo cartas de amantes no meio (foi assim que ele descobriu sobre esse amigo que acabou morrendo e a traição). Vieltchâninov não teme, pois não trocava cartas que o entregassem com essa mulher.
A filha – que já era contrária ao “abandono” de ser separada de Pável – acaba adoecendo “de saudade” e, sem a visita dele, morre.
Depois disso, é recebida uma carta dizendo que, na realidade, ela não era filha de Pável, mas de um general. Após comunicada a morte da criança, o general envia dinheiro – por carta – para seu funeral e para a realização de missas. (Nádia teria, nesse momento tido um caso com o General, Vieltchâninov e com esse amigo, morto, de Pável.)
Vieltchâninov tem uma relação um tanto quanto complexa com Pável nessa primeira cena. Ele, por ter tido um caso com a esposa de Pável, tem receio e continua se indagando se Pável sabe disso ou não. Mas, ao mesmo tempo, é alguém que Pável, pelo menos superficialmente, exibe uma gigantesca admiração. Logo, isso o confunde.
Ato 2
É tido, após a morte da criança, um timeskip. Vieltchâninov estava visitando o túmulo da criança quando encontrou Pável em um bar – próximo do cemitério – bebendo. Pável lamenta a situação com a criança e diz que está predestinado com uma nova noiva. Pável também apresenta uma aparência mais refinada e não estava tão bêbado quanto antes. Ele insiste em levar Vieltchâninov para conhecer a família de tal noiva, onde há várias filhas mulheres.
Novamente, é reintegrada essa admiração de Pável por Vieltchâninov. Eles saem, e Pável continua comentando sobre a questão de que “irá contar tudo para Vieltchâninov”, mas não agora. Continuando com o peso da dúvida:
“Será que Pável sabe que Vieltchâninov havia tido um caso com sua esposa?”
Após uma noite de bebedeiras, Vieltchâninov se assusta: ele acorda com Pável em pé ao seu lado no quarto escuro. Foi um acidente, pelo menos foi dito como um acidente.
Eles visitam esse local, e Vieltchâninov agrada a todos, enquanto Pável é tratado como mais um e deixado de lado. Pável até mesmo leva um presente, o qual é devolvido pela "ruivinha" para Vieltchâninov – a "ruivinha" era a filha que Pável queria tomar como esposa (Ela tinha 15 anos).
Há brincadeiras e atividades feitas para os convidados – Pável e Vieltchâninov, “seu grande amigo”. As crianças acabam trancando Pável no sótão, e ele demonstra um grande incômodo com o fato de Vieltchâninov estar se dando bem com as garotas, principalmente com a "ruivinha".
Na sala de jantar, Vieltchâninov acaba tocando piano, após a filha mais velha, e escolhe uma música um tanto quanto “indecente” – direcionada à "ruivinha". Pável, com extrema indignação, chama Vieltchâninov e faz com que partam. Vieltchâninov diz que Pável apenas o lembrou de um compromisso e assim tranquiliza a família quanto à partida súbita.
No caminho de volta, Pável continua dizendo que Vieltchâninov não deve voltar mais lá e que irá contar-lhe tudo.
Vieltchâninov, ainda indignado por Pável ter tido a petulância de levá-lo para conhecer sua “predestinada”, apenas volta para casa com ele.
Após uma bebedeira, aparece um convidado – jovem – que diz ser o noivo predestinado da "ruivinha", amiga de infância dele, com quem tinha uma promessa de casamento. Os pais dela, porém, não aceitavam tal promessa.
Ele usa Vieltchâninov como “mediador” para tal encontro e conversa. Pável diz que não liga para isso e que tomaria a garota como sua noiva, independentemente da promessa. Além disso, diz que denunciaria o garoto e suas intenções para o pai da "ruivinha".
O garoto vai embora, e Pável continua na bebedeira com Vieltchâninov. Uma tempestade se aproxima, então Vieltchâninov o convida para passar a noite. Nisso, uma “doença” de Vieltchâninov o ataca. Pável, extremamente preocupado, chama a arrumadeira e diz que já viu isso antes, auxiliando no tratamento e fazendo questão de que Vieltchâninov melhorasse, ajudando-o de forma minuciosa.
Após um tempo, Vieltchâninov melhora, a arrumadeira vai embora, e ele cai no sono.
Nesse sono, ele tem um pesadelo: pessoas cercando-o, lotando o apartamento e a escada. Dizendo que ele teria o que merecia, falavam alto e se amontoavam. Ele sabia que era um sonho, mas era tão realista que – para ele, naquele momento – não podia ser outra coisa senão real. Começam a trazer algo, subindo a escada. E Vieltchâninov só sente que precisa se levantar, pular e ir de encontro àquilo.
Ele levanta, e Pável tenta esfaqueá-lo com uma navalha. Após uma leve luta, ele domina Pável e o amarra. Sem nenhuma palavra, e com a mão cortada – ensanguentada –, ele guarda a navalha e deixa Pável no quarto. Amarra uma toalha em volta da mão e volta a dormir.
No outro dia, Pável já está vestido, desamarrado e não menciona nada sobre o incidente. Vieltchâninov o expulsa.
Vieltchâninov se pergunta se Pável já queria matá-lo, mesmo após tê-lo ajudado durante sua doença.
Indaga se esse pensamento de assassiná-lo surgiu apenas ao ver a navalha “dando sopa” ou se já existia desde a outra vez em que Pável esteve ao seu lado no quarto escuro.
Ele ignora a situação, mas depois vai ao médico cuidar da mão e procurar por Pável.
Nessa caminhada, encontra o garoto noivo da "ruivinha". Ele diz que bebeu e conversou com Pável, que fugiu após a noite de bebedeiras, mas que falou muito em Vieltchâninov. Também foi comentado que Pável contou ao pai da ruivinha sobre o relacionamento do garoto com ela. O pai a trancou no sótão.
Pável deixou uma carta para Vieltchâninov. Era uma carta antiga da falecida esposa dele para Vieltchâninov. Nela, ela admitia a gravidez e falava que ele poderia visitar a criança dali a um ano – mas a carta nunca foi enviada, tendo ficado no baú que Pável havia mencionado. Logo, ele sabia da traição.
Ato 3
Esse ato é mais curto que os outros.
É tido outro timeskip desde o último acontecimento. Vieltchâninov está pegando um trem, para visitar algum amigo, mas – nesse caminho – o trem tem uma parada, e nela acontece uma cena. Um homem começa a implicar com um casal. O homem desse casal está bêbado e mal consegue fazer algo, enquanto a mulher é praticamente humilhada.
É comentado como Vieltchâninov envelheceu e como ele havia ganhado o caso – aquele mencionado no início do livro, que ele achava que o advogado estava ignorando. Agora, tem uma pequena fortuna novamente, mas se recusa a participar da alta civilização.
Vieltchâninov interfere e protege a honra da mulher. Ela comenta que o marido havia sumido enquanto o amigo deles estava bêbado. Após uma conversa, o marido aparece: Pável.
Pável fica extremamente surpreso ao ver Vieltchâninov e completamente sem jeito. Vieltchâninov age e fala como se fossem velhos amigos e não demonstra rancor. A esposa de Pável o xinga, dizendo que ele nunca está lá quando é preciso, e convida Vieltchâninov para visitá-los. Vieltchâninov estava indo para um lado da parada, e a casa seria para o outro, mas ele concorda.
Eles se despedem, mas, antes do trem sair, Pável vai ao encontro dele, implorando que Vieltchâninov não os visite, nervoso, enquanto Vieltchâninov, tranquilo, diz que só falou aquilo para não estragar o momento.
A conversa termina com Vieltchâninov estendendo a mão – com a cicatriz do corte da navalha – para Pável, que trava, assustado.
“Se eu, depois de tudo, lhe ofereço minha mão, é melhor você apertá-la”, disse Vieltchâninov com grande raiva.
“Mas... e a Liza...?” – disse Pável. Liza era a criança que Pável fingiu ser filha dele e que acabou por morrer.
Pável se vai logo após essa pergunta, por conta do barulho do sino que indicava a partida do trem e dos chamados incessantes da esposa.
Vieltchâninov fica na estação até a noite e pega o próximo trem, mas decide não seguir seu caminho anterior – se arrependendo depois.