Editora: Vozes do Bolso
Tradução, introdução e Notas: Anderson de Paula Borges
Nota: 7,5/10
Citação:
Digo que o amor é o mais antigo dos deuses e também o mais honrado e poderoso para a aquisição da virtude e da felicidade pelos homens, tanto em vida como na morte.
Considerações sobre a obra
É uma leitura boa para começar a entender a questão da sexualidade na antiguidade grega e traz uma visão interessante sobre Sócrates.
Honestamente o início da fala de Sócrates foi o que achei pior do livro. Foi algo chato e monótono, além de estar contrariando Agatão de uma forma a qual eu considero como um tanto quanto equivocada.
Por exemplo, se Agatão não tivesse concordado com o ponto de Sócrates - Eros é um desejo de algo que não se possui - teria havido uma maior dificuldade de contrariar o argumento total de Agatão. Vale-se ressaltar que o próprio Sócrates também diz que o Eros não é um desejo por algo que não se tem, demonstrando que, no final, o argumento utilizado para contestar Agatão não estava nem mesmo correto em sua essência.
Por conta disso não consigo deixar de imaginar que, neste dialogo escrito por Platão, o papel de Sócrates era apenas fazer uma espécie de teste com Agatão. Isso demonstra que Platão realmente reverenciava o mestre como um grande argumentador, como alguém que controlava totalmente a conversa, convencendo-te de algo para provar que sua contestação não foi suficiente para chegar na verdade. E nisso aborda-se o grande problema de tentar escrever um gênio em uma ação na qual você, o autor, não é genial.
Fora o início da fala de Sócrates, o livro é bastante cativante.
A visão de Aristófanes e Fedro trazem um ensinamento baseado no conhecimento mítico sobre o assunto. A fala de Erixímaco demonstra como era a visão médica na época. Pausânias e Alcibíades exemplificam, principalmente, as características sociais presente na antiguidade Ateniense. E Agatão, com Sócrates, realmente fizeram uma abordagem filosófica complexa.
Bom ressaltar que todos esses pontos eram focados no âmbito da ideia de Eros.
É realmente um livro clássico, admito que fiquei surpreso sobre a visão que interpassava as relações sócias e sexuais naquela época. Sabia que na Grécia antiga a Homossexualidade era algo "mais comum", mas, lendo esse livro e observando um pouco mais afundo, é curioso perceber que a utilização de argumentos míticos em relação a sexualidade não é algo recente, mas algo que permeia a história desde sempre. É visto na atualidade argumentos sobre a sexualidade baseando-se na bíblia ou em outros textos religiosos, enquanto Aristófanes também trouxe no texto uma visão mítica para a questão da sexualidade a mais de 2000 anos atrás.
Caso tenha interesse sobre a Grécia antiga, sobre o amor/desejo ou sobre a ideia de sexualidade eu recomendo esse livro. Afinal, é um livro curto e com bastante informação. Ao mínimo é interessante e vai agregar algo no seu conhecimento.
Contextualização
A obra se trata de uma espécie de debate entre 4 participantes. O foco deste debate é sobre o Eros, o Amor. Um adendo que Eros é um termo mais amplo que amor interpessoal, em alguns momentos ele é utilizado para descrever algo que se assemelha muito mais a ideia de desejo do que amor propriamente dito.
A linguagem do livro não é difícil. Em alguns momentos tende para uma linguagem mais maçante, mas, em sua totalidade, é bem fluido.
Importante ressalva que este livro é um conto narrativo de Apoldoro sobre aquilo que passou no banquete. Ele conta isso para um colega, o qual o nome não é revelado, anos depois do acontecido. Após esta breve introdução vamos ao livro.
No banquete tem 6 participantes. Fedro, Pausânias, Erixímaco, Aristófanes, Agatão (o dono da casa) e Sócrates. Mais para o final do banquete aparece mais um personagem, chamado Alcibíades. Cada um desses participantes toma turnos falando sobre Eros, como uma espécie de cântico em homenagem ao Eros.
Primeiramente Fedro se pôs a falar. Ele discursou sobre a origem de Eros, o colocando como o mais antigo dos Deuses e o único que poderia fazer uma pessoa agir em proveito do outro. Fedro defendia a ideia que o amor desenvolveria a virtude. Ele afirma que você não gostaria que o seu amado te visse como uma pessoa sem virtude e, desta forma, você desenvolve a virtude, para evitar essa visão sobre si. O amado também não seria isento, pois seria "transformado" por esse desejo, se tornando alguém digno do mesmo, e desenvolvendo a virtude. Ele adentra nesse ponto com vigor, sendo o carro chefe de seu argumento. Também é abordado a ideia do romance entre pessoas mais velhas com pessoas mais novas, entrando em uma ideia que liga o romance com a educação, algo que ira perdurar por grande parte da obra.
Então Pausânias tomou a palavra e começou o discurso fazendo uma crítica à Fedro. Ele acredita de que o amor não é somente uma unidade, mas que pode ser dividido no amor "popular" e "celestial". O amor popular seria a mera relação carnal e física. E o amor celestial seria uma forma de "educar a alma" e serviria para desenvolver a virtude. Pausânias afirma que o amor celestial deveria ser visto como uma troca onde o mais velho fornece formação intelectual, educação e assistencialismo no desenvolvimento enquanto o mais jovem fornece a gratificação sexual em troca. Vale a pena colocar um adendo, é se abordado bastante a questão das relações homo afetivas nesse ponto, levando em consideração relações entre homens com mulheres, mulheres com mulheres e homens com homens.
O terceiro a se prontificar na fala é Erixímaco, um médico ateniense. É defendido por ele que o melhor amor é aquele que desenvolve a moral e a virtude. Também é presente a defesa da ideia de que o amor adequado só é possível por meio da medicina. Ele afirma que sem a medicina o Eros iria se manifestar por doenças, agora, com o conhecimento médico adequado, Eros seria uma experiência harmoniosa. Erixímaco também divaga sobre a ideia do belo e do feio.
Aristófanes se põe a falar e segue um outro caminho. É tido uma visão mais mitológica nesse discurso, onde é afirmado que os humanos tinham 4 braços, duas cabeças, duas pernas e que, por punição a sua arrogância, foram separados por Zeus. Desta forma se deprimem e buscam a sua outra metade durante a existência. Ele também fala que existia 3 tipos de humanos nessa época, os completamente masculinos, os completamente femininos e os andrógenos, isso explicaria atração sexual. Importante observar que, por mais que tenha alguns comentários sobre o desejo, neste discurso o desejo fica em segundo plano.
O dono da casa, Agatão, agora começa a falar e seu discurso foca envolta de duas características que ele julga como principais de Eros, a ideia da suprema bondade e beleza. Ele segue o discurso fazendo uma grande defesa desses dois pontos com diversos argumentos.
Sócrates toma a palavra neste momento pedindo autorização para mudar a forma do discurso e começa utilizando da retorica com Agatão, fazendo ele concordar que o desejo é algo relacional - afinal é um desejo de algo - e também é carência - pois você deseja algo que não tem. Após Agatão concordar com esses pontos, Sócrates desconstrói o argumento de Agatão. Sócrates diz que Eros, na realidade, é uma característica de natureza, algo que orbita entre os deuses e os mortais. É divagado sobre uma conversa tida pelo filósofo com Diotima - parteira conhecida por Sócrates - sobre este tópico, esta conversa adentra na questão do desejo da imortalidade. Afirmam-se que este desejo é uma função do amor. Diotima reforça a ideia que o amor é um desejo interligado com a beleza. Neste momento adentramos num ponto crucial do discurso onde é feito um completo processo intelectual para descrição da presença do Belo, sendo o belo a característica principal do Eros.
Para finalizar aparece Alcibíades, mas, ao contrário dos outros, ele fala sobre Sócrates e não sobre o Eros. É uma parte que serve como comédia e para provar de que era comum a ideia dos mais jovens de trocar favores sexuais pela educação fornecida dos mais velhos. Sócrates não gostava dessa ideia e todas investidas feitas por Alcibíades são recusadas instantaneamente. É finalizado o livro com esse debate, com está visão mais jovial sobre Eros, se baseando em uma noção mais geral e de senso comum que era presente em Atenas.