Apologia de Sócrates
Platão
Platão
Editora: Edipro
Tradução e Notas: Edson Bini
Nota: 9/10
Citação:
Assim, eu me vejo condenado à morte por vós, condenados de verdade, criminosos de improbidade e de injustiça. Eu estou dentro da minha pena, vós dentro da vossa.
Considerações sobre a obra
Admito que tal obra me surpreendeu. Por mais que eu soubesse que Sócrates era uma figura histórica muito importante, eu nunca olhei para ele com bons olhos, mas, após ler sobre o seu julgamento, eu tenho, no mínimo, respeito por ele.
Encarar a morte, ao invés de voltar-se contra aquilo que acredita, é um tanto quanto difícil, mas Sócrates fez isso. Ele chegou ao tribunal já imaginando a sua morte, e isso não mudou a forma como ele se portou. Ele falou a verdade, criticou seus acusadores e, de uma forma que só pode ser descrita como magnífica, desmontou todos os argumentos contrários a ele de uma forma certeira e lógica. Confesso que, enquanto eu lia, comecei a ficar em dúvida: “Como alguém presente ali votaria para a condenação de Sócrates após ouvir o seu discurso? Todos os argumentos contra ele – não acreditar nos deuses, corromper a juventude etc. – foram mostrados completamente falsos.” E acredito que a razão disso foi - não unicamente, mas principalmente - a não neutralidade de seus julgadores.
Pelo que pude perceber, Sócrates realmente era um espinho para aqueles presentes na sociedade ateniense. Os seus acusadores não foram lá para punir Sócrates por algo que ele estava fazendo de errado, ou para descobrir a verdade, eles foram lá para se livrar do incômodo que Sócrates trazia. Não é à toa que a votação chegou a ser acirrada; aqueles que foram lá dispostos a ouvi-lo, mesmo que fossem contrários a ele, provavelmente votaram pela sua absolvição.
Realmente não vejo uma razão, que não seja alguma forma de desdém, para, após o discurso de Sócrates, votarem por sua condenação. Compreendo a importância deste livro e, como consequência, a importância de Sócrates.
Há duas ideias demonstradas que realmente ficaram comigo, sendo elas:
· A critica contra aqueles no topo da sociedade tem seu preço, Sócrates estava disposto a pagar esse preço.
· Uma multidão munida pelo desdém, caso tenha poder em suas mãos, matará o mais sábio de sua sociedade por conta do incomodo que este trás.
É um livro incrível. A crítica àqueles no topo, aos falsos sábios, é algo que será atual em qualquer momento. É uma aula de como argumentar e desmontar argumentos falsos jogados contra você e, por último, mas não menos importante, é um livro com um grande peso filosófico, principalmente no final, quando Sócrates aborda o tema da morte.
Não importa a sua área, você aprenderá algo com esse livro. Simplesmente fenomenal.
Contextualização - Resumo
Este livro se compõe do julgamento de Sócrates e pode ser dividido em 4 partes:
1- Sócrates se dirige ao júri abordando as suas acusações e seus acusadores. Ele era julgado por sedução da juventude, impiedade e descrença dos deuses (juntamente com uma propaganda contrária aos mesmos).
2- Sócrates interroga Mileto – seu principal acusador.
3- Sócrates fala ao júri novamente, já sabendo da sua pena de morte.
4- Após sua proposta de que sua pena fosse de 30 minas no lugar de sua morte ser recusada, Sócrates se dirige pela última vez aos jurados. Ele fala com aqueles que o condenaram e depois com aqueles que o absolver
am.
1 - Na primeira parte, Sócrates, se dirigindo ao júri, pede perdão pela forma como se porta, mas diz que não falaria de maneira extremamente formal. Então, ele aborda as suas acusações e mostra como elas não são fundamentadas em um discurso verdadeiro, mas sim em palavras bonitas e em um ressentimento a ele. Sócrates afirma em seu discurso que não falará aquilo que querem ouvir, mas falará – e será fiel – à verdade.
Sócrates explica sua jornada. Segundo ele, um de seus conhecidos perguntou ao Oráculo de Delfos quem seria o homem mais sábio de Atenas, e esse oráculo, representante das palavras de Apolo, afirmou que esse homem seria Sócrates. Descrente disso, Sócrates sai em busca daqueles que são conhecidos por serem sábios, mas descobre de forma desagradável que esses homens, que eram conhecidos por sua sabedoria, na realidade não o são. O filósofo, percebendo essa falsa crença de sabedoria, tenta demonstrar a irrealidade da mesma, mas, ao fazer tal questionamento, acabou por irritar pessoas no topo social de diversas formas, o que, segundo sua argumentação, foi também uma das causas para ele estar em julgamento e, na visão de Sócrates, prestes a ser considerado culpado.
2 - Mileto, um grande acusador do filósofo, é então questionado por Sócrates, que mostra, de forma magnífica, todos os furos argumentativos na tese de Mileto.
- Sobre a acusação de Sócrates receber pagamento pelo ensinamento de suas aulas, ele afirma, corretamente, que não há nenhuma testemunha que tenha pago por suas lições e, se ele cobrasse, não seria pobre como é.
– Sobre a acusação de corromper e prejudicar a juventude, o filósofo mostra que os familiares, amigos e até mesmo aqueles que estão “sendo corrompidos” não sofreram influência negativa de Sócrates.
– Sobre ele não acreditar nos deuses, ele argumenta a partir dos Dáimons, parte importante dos argumentos de Sócrates, que seriam deuses menores ou sem nomes, e seria impossível ele acreditar na existência desses deuses sem acreditar nos deuses maiores.
Estes são os pontos principais.
3 - Sócrates demonstra surpresa pela votação ser acirrada. Ele acreditava que seria condenado à morte por uma grande maioria. Nesta parte, Sócrates demonstra que não teme a morte. Prefere a morte a ter que ir contra suas crenças e virtudes. Afirma que, ao contrário do que esperavam, ele não iria implorar pela vida, chorar e apelar para o emocional; não iria repetir as cenas que outros ali presentes, como Mileto, fizeram. Sobre sua punição, ele afirma que aceitaria uma punição que considerasse justa, e, como não considera justo sofrer uma punição, oferece o pagamento de um valor aceitável para ele, alguém pobre. Esse valor seria contribuído por alguns de seus discípulos, incluindo Platão, como fiadores, e seria de 30 minas.
4 - Para aqueles que votaram a favor de sua morte, Sócrates diz: “A vingança vos atingirá imediatamente após a minha morte, uma punição, por Zeus, muito mais difícil de suportar do que a que reservastes a mim.” Além disso, ele também afirma que o mais honroso não é silenciar os indivíduos, mas sim focar em se tornar o melhor possível.
Enquanto, para aqueles que votaram pela sua absolvição, Sócrates afirma que não devemos considerar a morte como o maior dos males. Após isso, ele entra na questão do que é a morte e apresenta duas opções: ser o nada ou ser uma transição para outro plano.
Caso seja o nada, será como um sono tranquilo e sem preocupações. Mas, se for uma transição para outro plano, Sócrates deixará para ser julgado pelos juízes de Hades. Ele questiona se essa mudança não seria algo desejável, afinal, ele encontraria Orfeu, Museu, Hesíodo e Homero. Ele também afirma que seria um prazer investigar e examinar as pessoas neste lugar, já que lá as pessoas não matam as outras por fazerem isso. Além disso, Sócrates diz que aqueles ao seu redor deveriam ver a morte com esperança, afinal, um homem bom não pode ser atingido pelo mal na vida após a morte.